A obra literária
escolhida para este mês de março de 2013 foi Mensagem, de Fernando Pessoa.
Considerado
o maior poeta de língua portuguesa do século XX, Fernando Antônio Nogueira
Pessôa nasceu em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa, tendo sua primeira
infância marcada por acontecimentos que deixaram cicatrizes por toda sua vida.
Filho
de Joaquim de Seabra Pessoa, funcionário público e crítico musical, e de Maria
Madalena Pinheiro Nogueira, Fernando Pessoa viveu na capital portuguesa até 1895,
quando teve que se mudar com sua família para a cidade de Durban, uma colônia
inglesa na África do Sul.
Durante
sua primeira infância em Lisboa, perde o seu pai em 1893, quando tinha apenas 5
anos de idade. Neste mesmo ano ganha um irmão, Jorge. A morte de seu pai
Joaquim traz tantas dificuldades financeiras à família que Madalena e seus
filhos são obrigados a baixar o nível de vida, passando a viver na casa de
Dionísia, a avó louca do poeta. No ano seguinte morre também Jorge, seu irmão.
Nesse momento que Fernando Pessoa “encontra” um amigo invisível: o Chevalier de Pas, ou o Cavaleiro do
Nada, “por quem escrevia cartas dele a mim mesmo” diz o poeta, na carta de 1935
ao crítico Casais Monteiro.
Em
1895, dois anos após a morte de Joaquim, Madalena – sua mãe – se casa com o
comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal na cidade de Durban e é para lá que
se muda Fernando Pessoa e sua família no ano seguinte. Nos anos seguintes o
futuro poeta ganha mais uma irmã, Henriqueta Madalena (que morre aos três anos de
idade) e João. Em 1896, ele inicia o curso primário na escola de freiras
irlandesas da West Street. Três anos mais tarde, ele ingressa na Durban High School.
Considerado um aluno excepcional, em 1900 é admitido no terceiro ano do liceu e
antes do final do ano letivo, é
promovido ao quarto ano.
Aos
14 anos de idade, durante férias em Portugal, Fernando Pessoa escreveu um de
seus primeiros poemas em português:
(...)
Quando eu me sento à janela,
P’los vidros que a neve embaça
Julgo ver a imagem dela
Que já não passa...não passa
No
ano seguinte, em 1903, o jovem Fernando Pessoa é admitido na Universidade do
Cabo, mas cursa apenas um ano. Neste período ele cria várias “personalidades
literárias”, entre elas dois poetas saídos de sua imaginação se destacam: Alexander
Search, um adolescente, como seu criador, que, inclusive, nasceu no dia de seu
aniversário e Charles Robert Anon, também um adolescente, mas de temperamento
oposto ao temperamento de Pessoa. Em
1904, a família aumenta; é a vez do nascimento de sua irmã Maria Clara.
Um
ano mais tarde, há uma virada na vida de Pessoa. Ele retorna a Portugal, onde
passa a viver com sua tia-avó Maria e se inscreve no curso de Letras, mas com
todo seu processo criativo intenso, quase não frequenta o curso. No ano seguinte,
Pessoa mora com sua mãe e o padrasto, que estão de férias em Lisboa; mas morre
sua irmã Maria Clara. Sua família volta para Durban e ele vai morar com a avó e
suas tias. É neste momento que ele desiste, definitivamente, do curso de
Letras.
Com
a morte da avó, em 1906, Fernando Pessoa recebe uma pequena herança e aplica-a
integralmente numa tipografia. No entanto, a falta de experiência faz com que o
empreendimento logo fracasse. Dois anos mais tarde, ela começa a trabalhar como
“correspondente de línguas estrangeiras”, ou seja, encarrega-se da
correspondência comercial em inglês e francês em escritórios de importações e
exportações, profissão que, junto com a de tradutor, desempenhará até o fim de
sua vida.
Um
dos dias mais importantes na vida de Fernando Pessoa foi o dia 8 de março de
1914, dia em que o poeta constrói os seus mais importantes heterônimos: Alberto
Caeiro, famoso pelo seu poema O guardador
de rebanhos, Ricardo Reis, o médico e poeta equilibrado, de educação
latinista e semi-helenista, e Álvaro de Campos, “o mais histericamente
histérico de mim” dizia o poeta.
Heterônimos
sim, porque, diferente de um pseudônimo, cada um desses personagens possuía uma
identidade própria, uma história de vida e uma formação humana e cultural que
refletia em cada uma de suas criações literárias. Alberto Caeiro era uma
personalidade simples, sem muitos estudos e que vivia no campo. Era o
heterônimo preferido de Pessoa. Ricardo reis, por sua vez, era um homem
equilibrado, adepto da forma na escrita, da razão na sua prática de ofício e um
admirador da cultura helenista e latina. “Reis escreve melhor do que eu, mas
com um purismo exagerado”, dizia o poeta. Álvaro de campos teve uma educação
vulgar, de liceu. Era formado em engenharia mecânica e naval e não convivia
muito bem com a modernidade de seu tempo.
Como
dito ante, Mensagem foi a única obra
que o poeta publicou em vida. A grande maioria dos trabalhos de Pessoa foi
publicada em revistas especializadas da época. Muitos destes trabalhos não
foram muito bem recebidos pela crítica especializada, sobretudo quando o poeta
mexe com o grande orgulho português ao anunciar um novo nome na poesia daquele
país, na intenção de se sobrepor ao maior nome da literatura portuguesa, Luiz
Vaz de Camões.
Sobre
a obra
Mensagem,
de Fernando Pessoa, é o grande poema épico de Portugal do século XX, que narra
os grandes feitos heróicos deste povo ao longo de sua história. Lançado em 1º
de dezembro de 1934, foi o único livro de poemas, em língua portuguesa que o
autor publicou em vida. Mensagem
começou a ser escrito em julho de 1913, mas só foi finalizado em 26 de março de
1934. A grande maioria dos poemas foi escrita entre 1928 e 1934. O poeta
reconstrói a história de Portugal a
partir de três grandes mitos: 1) o rei escondido na ilha, o salvador; 2) a
audácia do impossível e 3) o fundador que veio de longe; dando uma atenção
especial ao primeiro grande mito.
A
obra está dividida em três partes principais: Brasão, que trata dos heróis fundadores da nação, mostrando um
passado glorioso português; Mar Português,
que trata do período áureo das navegações e seus heróis, apresentando as
principais etapas da expansão ultramarina, e O Encoberto, que é a parte mais instigante do poema, quando o poeta
dedica-se ao rei D. Sebastião, a toda sua mística e ao mito do Quinto Império,
sob a ótica de Rosa Cruz, uma Fraternidade o sociedade exotérica criada em
1614.
Ao
contrário de Os Lusíadas, de Camões,
que se trata de um grande poema que narra e exalta os grandes feitos heróicos
portugueses, se preocupando com a forma, a métrica e os elementos da cultura
helenística, Mensagem vai além destas
proposições, e talvez por isso tenha encontrado grandes dificuldades de
entendimento na crítica de seu tempo. A obra pode ser entendida, antes de tudo,
como uma profunda reflexão do autor sobre a história e os desafios de sua
pátria, quando a formação de um quinto império não signifique, necessariamente,
uma potência aos moldes tradicionais, mas sim um império espiritual, que supere
todos os problemas enfrentados por aquele país naquele momento, se tornando uma
proposta universal. Para finalizar, citamos o último poema desta obra, onde o
autor demonstra toda sua angústia e preocupação em relação os rumos de sua
nação.
Quinto
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Ninguém sabe que coisa quer.
Define com perfil e ser Ninguém
conhece que alma tem,
Este fulgor baço da terra Nem o que é mal
nem o que é bem.
Que é Portugal a entristecer – (Que ânsia distante perto
chora?)
Brilho sem luz e sem arder, Tudo é incerto e
derradeiro
Como o que o fogo-fátuo encerra. Tudo é disperso, nada é
inteiro.
Ó
Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
As informações foram retiradas de PESSOA, Fernando. Mensagem: obra poética I, Porto Alegre L&PM, 2007, 2ª Edição.
Muito interessante o seu recorte Marcelo. Gostei da progressividade e do quão sucinto ele foi. Parabéns!
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