terça-feira, 26 de março de 2013

A OBRA DO MÊS





       A obra literária escolhida para este mês de março de 2013 foi Mensagem, de Fernando Pessoa.
Considerado o maior poeta de língua portuguesa do século XX, Fernando Antônio Nogueira Pessôa nasceu em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa, tendo sua primeira infância marcada por acontecimentos que deixaram cicatrizes por toda sua vida.
Filho de Joaquim de Seabra Pessoa, funcionário público e crítico musical, e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira, Fernando Pessoa viveu na capital portuguesa até 1895, quando teve que se mudar com sua família para a cidade de Durban, uma colônia inglesa na África do Sul.
Durante sua primeira infância em Lisboa, perde o seu pai em 1893, quando tinha apenas 5 anos de idade. Neste mesmo ano ganha um irmão, Jorge. A morte de seu pai Joaquim traz tantas dificuldades financeiras à família que Madalena e seus filhos são obrigados a baixar o nível de vida, passando a viver na casa de Dionísia, a avó louca do poeta. No ano seguinte morre também Jorge, seu irmão. Nesse momento que Fernando Pessoa “encontra” um amigo invisível: o Chevalier de Pas, ou o Cavaleiro do Nada, “por quem escrevia cartas dele a mim mesmo” diz o poeta, na carta de 1935 ao crítico Casais Monteiro.
Em 1895, dois anos após a morte de Joaquim, Madalena – sua mãe – se casa com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal na cidade de Durban e é para lá que se muda Fernando Pessoa e sua família no ano seguinte. Nos anos seguintes o futuro poeta ganha mais uma irmã, Henriqueta Madalena (que morre aos três anos de idade) e João. Em 1896, ele inicia o curso primário na escola de freiras irlandesas da West Street. Três anos mais tarde, ele ingressa na Durban High School. Considerado um aluno excepcional, em 1900 é admitido no terceiro ano do liceu e antes  do final do ano letivo, é promovido ao quarto ano.
Aos 14 anos de idade, durante férias em Portugal, Fernando Pessoa escreveu um de seus primeiros poemas em português:
(...)
Quando eu me sento à janela,
P’los vidros que a neve embaça
Julgo ver a imagem dela
Que já não passa...não passa
No ano seguinte, em 1903, o jovem Fernando Pessoa é admitido na Universidade do Cabo, mas cursa apenas um ano. Neste período ele cria várias “personalidades literárias”, entre elas dois poetas saídos de sua imaginação se destacam: Alexander Search, um adolescente, como seu criador, que, inclusive, nasceu no dia de seu aniversário e Charles Robert Anon, também um adolescente, mas de temperamento oposto ao temperamento de Pessoa. Em 1904, a família aumenta; é a vez do nascimento de sua irmã Maria Clara.
Um ano mais tarde, há uma virada na vida de Pessoa. Ele retorna a Portugal, onde passa a viver com sua tia-avó Maria e se inscreve no curso de Letras, mas com todo seu processo criativo intenso, quase não frequenta o curso. No ano seguinte, Pessoa mora com sua mãe e o padrasto, que estão de férias em Lisboa; mas morre sua irmã Maria Clara. Sua família volta para Durban e ele vai morar com a avó e suas tias. É neste momento que ele desiste, definitivamente, do curso de Letras.
Com a morte da avó, em 1906, Fernando Pessoa recebe uma pequena herança e aplica-a integralmente numa tipografia. No entanto, a falta de experiência faz com que o empreendimento logo fracasse. Dois anos mais tarde, ela começa a trabalhar como “correspondente de línguas estrangeiras”, ou seja, encarrega-se da correspondência comercial em inglês e francês em escritórios de importações e exportações, profissão que, junto com a de tradutor, desempenhará até o fim de sua vida.
Um dos dias mais importantes na vida de Fernando Pessoa foi o dia 8 de março de 1914, dia em que o poeta constrói os seus mais importantes heterônimos: Alberto Caeiro, famoso pelo seu poema O guardador de rebanhos, Ricardo Reis, o médico e poeta equilibrado, de educação latinista e semi-helenista, e Álvaro de Campos, “o mais histericamente histérico de mim” dizia o poeta.
Heterônimos sim, porque, diferente de um pseudônimo, cada um desses personagens possuía uma identidade própria, uma história de vida e uma formação humana e cultural que refletia em cada uma de suas criações literárias. Alberto Caeiro era uma personalidade simples, sem muitos estudos e que vivia no campo. Era o heterônimo preferido de Pessoa. Ricardo reis, por sua vez, era um homem equilibrado, adepto da forma na escrita, da razão na sua prática de ofício e um admirador da cultura helenista e latina. “Reis escreve melhor do que eu, mas com um purismo exagerado”, dizia o poeta. Álvaro de campos teve uma educação vulgar, de liceu. Era formado em engenharia mecânica e naval e não convivia muito bem com a modernidade de seu tempo.
Como dito ante, Mensagem foi a única obra que o poeta publicou em vida. A grande maioria dos trabalhos de Pessoa foi publicada em revistas especializadas da época. Muitos destes trabalhos não foram muito bem recebidos pela crítica especializada, sobretudo quando o poeta mexe com o grande orgulho português ao anunciar um novo nome na poesia daquele país, na intenção de se sobrepor ao maior nome da literatura portuguesa, Luiz Vaz de Camões.
 
Sobre a obra
Mensagem, de Fernando Pessoa, é o grande poema épico de Portugal do século XX, que narra os grandes feitos heróicos deste povo ao longo de sua história. Lançado em 1º de dezembro de 1934, foi o único livro de poemas, em língua portuguesa que o autor publicou em vida. Mensagem começou a ser escrito em julho de 1913, mas só foi finalizado em 26 de março de 1934. A grande maioria dos poemas foi escrita entre 1928 e 1934. O poeta reconstrói  a história de Portugal a partir de três grandes mitos: 1) o rei escondido na ilha, o salvador; 2) a audácia do impossível e 3) o fundador que veio de longe; dando uma atenção especial ao primeiro grande mito.
A obra está dividida em três partes principais: Brasão, que trata dos heróis fundadores da nação, mostrando um passado glorioso português; Mar Português, que trata do período áureo das navegações e seus heróis, apresentando as principais etapas da expansão ultramarina, e O Encoberto, que é a parte mais instigante do poema, quando o poeta dedica-se ao rei D. Sebastião, a toda sua mística e ao mito do Quinto Império, sob a ótica de Rosa Cruz, uma Fraternidade o sociedade exotérica criada em 1614.
Ao contrário de Os Lusíadas, de Camões, que se trata de um grande poema que narra e exalta os grandes feitos heróicos portugueses, se preocupando com a forma, a métrica e os elementos da cultura helenística, Mensagem vai além destas proposições, e talvez por isso tenha encontrado grandes dificuldades de entendimento na crítica de seu tempo. A obra pode ser entendida, antes de tudo, como uma profunda reflexão do autor sobre a história e os desafios de sua pátria, quando a formação de um quinto império não signifique, necessariamente, uma potência aos moldes tradicionais, mas sim um império espiritual, que supere todos os problemas enfrentados por aquele país naquele momento, se tornando uma proposta universal. Para finalizar, citamos o último poema desta obra, onde o autor demonstra toda sua angústia e preocupação em relação os rumos de sua nação.
Quinto
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,              Ninguém sabe que coisa quer.
Define com perfil e ser                                    Ninguém conhece que alma tem,
Este fulgor baço da terra                                Nem o que é mal nem o que é bem.
Que é Portugal a entristecer –                        (Que ânsia distante perto chora?)              
Brilho sem luz e sem arder,                           Tudo é incerto e derradeiro   
Como o que o fogo-fátuo encerra.                 Tudo é disperso, nada é inteiro.
                                                         Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
                                                         É a hora!
As informações foram retiradas de PESSOA, Fernando. Mensagem: obra poética I, Porto Alegre L&PM, 2007, 2ª Edição.
 


Um comentário:

  1. Muito interessante o seu recorte Marcelo. Gostei da progressividade e do quão sucinto ele foi. Parabéns!

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