O presidente negro
qua, 05/11/08
por Luciano Trigo |
Romance premonitório de Monteiro Lobato, de 1926, foi acusado de racismo
Já estou
em Ouro Preto, aguardando o início do Fórum das Letras, daqui a
pouquinho. Num primeiro passeio pela cidade, cheia de ladeiras e
História, me peguei pensando na eleição do Barack Obama, algo
inimaginável uma geração atrás. E ainda mais inconcebível na época em
que Monteiro Lobato publicou seu livro O presidente negro e o choque das raças – inicialmente na forma de folhetim, nas páginas do jornal carioca A Manhã,
em… 1926! O subtítulo era “Romance americano do ano 2228″, ou seja,
Lobato errou em 220 anos, mas só a idéia de a América ter um presidente
negro já bastaria então para classificar a obra no gênero ficção
científica. O livro foi relançado recentemente pela editora Globo (212
pgs. R$28).
O
narrador é Ayrton, funcionário da empresa paulista Sá, Pato & Cia.
Após um acidente de carro, ele conhece Jane, filha do professor Benson,
inventor do porviroscópio – um aparelho que permite prever o futuro.
Assim ele fica sabendo da eleição do 88.° presidente americano. Três
candidatos disputam o cargo: o negro Jim Roy, a feminista Evelyn Astor e
o presidente Kerlog, candidato à reeleição. A diviisão da sociedade
branca em partido masculino e feminino leva à eleição do candidato
negro.
Mas
a história não termina aí: os brancos engendram um plano diabólico: a
esterilização dos indivíduos de raça negra, camuflada num processo de…
alisamento de cabelos (!). Isso muito antes de inventarem a chapinha, o
alisamento japonês etc.
“Desde
já asseguro uma coisa: sairá novela única no gênero. Ninguém lhe dará
nenhuma importância no momento, julgando-a pura obra da imaginação
fantasista. Mas um dia a humanidade se assanhará diante das previsões do
escritor, e os cientistas quebrarão a cabeça no estudo de um caso,
único no mundo, de profecia integral e rigorosa até os mínimos
detalhes”, escreveu Monteiro Lobato. Premonitoriamente, ele
imaginou um futuro onde os jornais não são lidos no seu formato
tradicional, em papel, mas em monitores luminosos existentes em cada
casa. E onde um tipo de radiotransmissão de dados possibilitam realizar
tarefas sem a necessidade de se deslocar para o trabalho.
Lobato acertou na evolução da ciência e no episódio da política, mas foi infeliz na análise social. O presidente negro
foi gestado em apenas três semanas, como uma espécie de cartão de
visitas de Monteiro Lobato ao mercado editorial americano, pelo qual
esperava ganhar “um saco de dólares”. Nomeado adido comercial no
consulado brasileiro em Nova York, ele explicou o livro em carta ao
amigo Godofredo Rangel: “Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a
inteligência do branco”. Na mesma carta, Lobato, que não era exatamente
bonito, diz que a miscigenação criara uma classe de “corcundas de Notre
Dame” nos subúrbios do Rio de Janeiro.
Lobato
era coerente com as idéias em voga no seu tempo, e o livro combina a
crítica social de H.G. Wells com as teses sobre superioridade racial
degeneração e eugenia defendidas por Gustave Le Bon e muito populares na
época. Naturalmente, o escritor pode ser hoje acusado de racismo e de
fazer uma defesa da eugenia, por argumentar, através da boca de seus
personagens, em defesa de uma sociedade saudável, homogênea e ordeira,
sem deficientes etc. Mas racista, na verdade, era a época em que ele
vivia – da mesma forma, aliás, que era escravagista a época de José de
Alencar, hoje cruficificado por defender a escravidão em meados do
século XIX, quando não fazia mais que dar voz ao pensamento dominante de
seu tempo.
De
qualquer forma, o livro não agradou, como o próprio autor escreve, em
nova carta a Godofredo Rangel: “Meu romance não encontra editor. (…)
Acham-no ofensivo à dignidade americana. (…) Errei vindo cá tão verde.
Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros.”
Oi, eu estava pesquisando alguns blogs e acabei encontrando o seu.
ResponderExcluirNossa, eu gostei muito...
eu tmb tenho um blog,e como eu tenho poucos seguidores, eu gostaria de pertuntar se vc seguiria me blog? Bom, mesmo que vc não queira seguir o meu, eu seguirei o seu.
Bjsssssssss Isabella.
leiturasdaisa.blogspot.com