quarta-feira, 28 de maio de 2014

Próximo encontro: Seis Passeios pelo Bosque da Ficção, de Umberto Eco


Seis passeios pelo bosque da ficção – Umberto Eco
O nosso próximo encontro, que acontecerá no mês de junho, irá discutir a obra de Umberto Eco, Seis Passos pelo Bosque da Ficção.
 
A obra é resultado de seis conferências realizadas por Umberto Eco, entre 1992 e 1993, na universidade de Harvard. O autor parte de conceitos como leitor-empírico – aquele que realiza uma leitura subjetiva da obra de arte, porque utiliza o texto como “um receptáculo de suas próprias paixões”, e leitor-modelo – aquele que seria um leitor ideal que o texto não apenas prevê, mas que quer como colaborador e, muitas vezes, tenta moldar durante a própria construção do enredo. Assim, mergulhando em questões cruciais da arte narrativa, tais como: as divergências entre tempo real e tempo ficcional, as diferenças entre história, enredo e discurso e seus respectivos tempos narrativos, e a verdade histórica e filosófica em contraste com a verdade ficcional, bem como a aceitação desta e a suspensão daquela, para que se possa adentrar o texto literário, os bosques de Eco são uma metáfora do texto narrativo. Enfim, um convite às diversas formas de se percorrer e interpretar uma mesma história, a partir dos espaços em branco que o autor-modelo espera que sejam preenchidos pelo leitor-modelo. Para tanto, o texto é apresentado como um “jardim de caminhos que se bifurcam”, para lembrar Borges, pois, para Eco, “Mesmo quando não existem trilhas bem definidas num bosque, todos podem traçar sua própria trilha e decidir a direção que vai tomar.

Percorrendo, assim, os textos de Homero, Dante, Shakespeare e James Joyce, bem como as fábulas dos irmãos Grimm, o universo romântico de Dumas e Nerval, as descrições góticas de Poe, a literatura filosófica de Kafka, entre outros autores e obras, Eco busca apontar algumas pistas para os inúmeros caminhos e trilhas com os quais nos deparamos diante de um texto que se propõe a contar uma história. São caminhos que, ao serem percorridos, cruzam as fronteiras imprecisas de um labirinto chamado texto, e que atravessam os tênues limites que separam a realidade da ficção... Temos, portanto, uma oportuna obra teórica, nem por isto sem o esmero literário de Umberto Eco, que deve ser lida por todos os amantes da literatura.

 

Por Paulo Tostes.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vidas Secas, de Graciliano Ramos


O encontro do dia 25/05 debateu o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro. Apesar desse sentimento de transbordante solidariedade e compaixão com que a narrativa acompanha a miúda saga do vaqueiro Fabiano e sua gente, o autor contou: "Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão... os meus personagens são quase selvagens... pesquisa que os escritores regionalistas não fazem e nem mesmo podem fazer ...porque comumente não são familiares com o ambiente que descrevem...Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. A minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda. As pessoas adultas, preocupadas com o estômago, não tem tempo de abraçar-se. Até a cachorra [Baleia] é uma criatura decente, porque na vizinhança não existem galãs caninos". VIDAS SECAS é o livro em que Graciliano, visto como antipoético e anti-sonhador por excelência, consegue atingir, com o rigor do texto que tanto prezava, um estado maior de poesia.