quinta-feira, 31 de março de 2011

No site jusnavigandi (a bíblia na internet de textos jurídicos), encontrei um ensaio muito interessante sobre o livro do Kafka e quero compartilhar com todos uma observação muito perspicaz dos autores:

"O que se pede ao leitor, o processo pede a Joseph K: a invenção de sentido, seja para lutar, seja para morrer. Invenção de sentido que exige, primeiro, que o leitor pare de procurar a Verdade como se ela estivesse dada no mundo; segundo, que o leitor assuma-se enquanto intérprete que, invariavelmente, precisa inventar verdades; terceiro, que abrace os riscos de viver o conhecimento sem certezas, e que seja incansável nesse processo que limita e projeta o homem ao mesmo tempo".

CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; MARTINEZ, Vinício C.. O processo de Kafka: memória e fantasmagorias do Estado de Direito. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 293, 26 abr. 2004. Disponível em: . Acesso em: 30 mar. 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Filme O Processo, baseado na obra de Franz Kafka

     Em uma manhã qualquer, Joseph K. (Kyle MacLanchlan) acorda com a presença de dois homens que o informam que ele está preso. Acorda preso, sob estranha acusação ou sem maiores esclarecimentos.
     Em liberdade, ele aguarda seu julgamento, passando a conviver com o medo, o estranhamento e angústia, enquanto tenta provar que é inocente - características peculiares das obras de Kafka.
    Este seria um enredo comum se não fosse por um único detalhe: Joseph K. não faz ideia do crime que cometeu e todos os detalhes da acusação são sigilosos, sendo apenas conhecidos pela Corte Suprema que o julgará.
     A ideia riquíssima de Franz Kafka ganha uma dimensão completamente nova no roteiro de Harlod Pinter, o qual realiza a segunda adaptação dessa obra. Segundo alguns críticos, essa segunda adaptação cinematográfica do livro é melhor do que a primeira, a qual foi feita em 1962, pelo diretor Orson Welles.
                                        Para aqueles que já leram a obra, vão encontrar no filme uma bela produção, além de ser uma adaptação fiel do autor tcheco, contando com interpretações impecáveis, com destaque para Anthony Hopkins (sacerdote e membro do tribunal).

terça-feira, 22 de março de 2011

Ciclo de Palestra "100 Rosas para Noel"

O Espaço Cultural Correios convida para o primeiro Ciclo de Palestras "100 Rosas para Noel" - Centenário de Nascimento do poeta Noel Rosa.
As vagas são limitadas e podem ser reservadas pelo telefone: (32) 3690-5715/5713

Data: 31/03/11
Horário: 09:00 às 16:00
Local: Espaço Cultural Correios
Rua Marechal Deodoro, 470. Centro - Juiz de Fora/MG


        

sexta-feira, 18 de março de 2011

Obama no Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega ao Brasil neste sábado de olho em abrir mercados para as suas exportações e garantir seu abastecimento energético, do qual é absolutamente dependente. Esta é a opinião de Luiz Alberto Moniz Bandeira é doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e professor titular aposentado de história da política exterior do Brasil, no Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB).
O Brasil, afirma, deve se tornar uma das maiores fontes de petróleo, com a exploração das reservas do pré-sal. "Com a instabilidade no Oriente Médio, a possibilidade de que o Brasil possa suprir suas necessidades é fundamental para os Estados Unidos", afirmou Moniz Bandeira.
O historiador é autor de mais de 20 obras, entre as quais "Presença dos Estados Unidos no Brasil, Brasil, Argentina e Estados Unidos", "De Martí a Fidel", "As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos". Em abril será lançada pela editora Civilização a terceira edição do livro "Brasil-Estados Unidos: A rivalidade emergente".

Leia a íntegra da entrevista:
Folha: Qual o significado da visita do presidente Obama neste momento?

Luiz Alberto Moniz Bandeira A importância econômica e política global do Brasil aumentou muito nos anos de governo do presidente Lula e os Estados Unidos não podem deixar de reconhecê-la. É o que significa, essencialmente, a visita de Obama. Os Estados Unidos e o Brasil são as duas maiores massas econômicas, as duas maiores áreas geográficas e as duas nações mais populosas do hemisfério. E têm necessariamente de manter relações maduras, respeitando as divergências e colaborando nas áreas onde houver maior convergência.

O que querem os EUA e o que quer o Brasil hoje, 50 anos depois da Aliança para o Progresso?
O maior interesse dos Estados Unidos, no momento, é abrir mercados para as suas exportações e garantir seu abastecimento energético, do qual é absolutamente dependente. E o Brasil não só apresenta um grande potencial de crescimento como também deverá tornar-se uma das maiores fontes de petróleo, com a exploração das enormes reservas existentes nas camadas pré-sal, ao longo de uma área de 112 mil quilômetros quadrados, do litoral do Espírito Santo ao de Santa Catarina. O volume ainda é indefinido. Somente foram avaliadas as áreas de Tupi e de Iara, na Bacia de Santos, e a do Parque das Baleias, na Bacia de Campos, litoral do Espírito Santo. A estimativa é de um volume mínimo de 9,5 bilhões de barris, que poderá atingir 14 bilhões, dobrando virtualmente as atuais reservas do Brasil, da ordem de 14 bilhões de barris. Com a instabilidade no Oriente Médio, a possibilidade de que o Brasil possa suprir suas necessidades é fundamental para os Estados Unidos.


Quais devem ser os temas que importam? China, crise global, pré-sal, protecionismo, propriedade intelectual, bases na Colômbia, caças, Irã?
O presidente Obama, de certo, tentará convencer a presidente Dilma Rousseff que a China é responsável e que sua moeda o yuan, desvalorizada constitui maior problema para o Brasil do que para o os Estados Unidos. Entretanto, em 2010, a China conseguiu um superavit comercial de US$ 181 bilhões no comércio com os Estados Unidos, ao contrário do que ocorreu no comércio com o Brasil, um deficit de cerca de US$ 7 bilhões no mesmo ano. A verdade, porém, é os Estados Unidos, para aumentar a competitividade de suas exportações, tratam de desvalorizar o dólar, e isto que acarreta a desvalorização que a China vinculou ao dólar. Provavelmente Obama alimenta a pretensão é alinhar o Brasil com os Estados Unidos, mas é difícil consegui-lo. A China provavelmente já o maior investidor estrangeiro no Brasil. Em 2010 a Câmara do Comércio Brasil-China previa que os investimentos chineses no Brasil alcançassem o volume de US$ 25 bilhões, até o fim do ano.


Do ponto de vista das empresas brasileiras (industriais e agrícolas) a relação com os EUA pode caminhar para que tipo de mudança?
Não creio que possa haver maior mudança. Devido aos imensos déficits comercial e fiscal e uma dívida pública que cresce US$ 4,09 bilhões, por dia, desde 28 de setembro de 2007 e ultrapassa US$ 14 trilhões virtualmente igual ao valor do seu PIB, da ordem de US$ 14,72 trilhões (2010) o interesse dos Estados Unidos não é importar, mas exportar mais e mais. Necessita reduzir seu deficit comercial, que saltou de US$ 40,3 bilhões, em dezembro de 2010, para US$ 46,3 bilhões em janeiro de 2011. E, aumentando suas exportações, os Estados também pode conter a alta de desemprego, que em fevereiro subiu para cerca de 8,9%.


No Brasil o antiamericanismo hoje é maior, menor ou igual ao de épocas passadas?
Não como avaliar o antiamericanismo no Brasil. É necessário entender que a defesa dos interesses nacionais não significa antiamericanismo. Ao contrário do que proclamou o chanceler Juracy Magalhães, no governo do presidente Castelo Branco, o que é bom para os Estado Unidos nem sempre é bom para o Brasil. O Brasil e os Estados Unidos têm, sem dúvida, contradições de interesses, enquanto Estados nacionais, assim como convergências. As relações entre os dois países nunca não foram tão suaves, como geralmente se supõe. No século 19, o governo brasileiro suspendeu três vezes (1827, 1847 e 1869) suas relações diplomáticas com os Estados Unidos, apesar de, desde 1848, já destinasse ao mercado norte-americano a maior parte de suas exportações, principalmente de café. O relacionamento entre os dois países só melhorou a partir de 1870, quando o Brasil se tornou extremamente dependente das exportações de café e o café, do mercado americano.


Como o sr. avalia a situação econômica e política dos EUA hoje?
A situação econômica e financeira dos Estados Unidos é muito ruim e dificilmente Obama poderá superá-la. É similar à da Grécia e alguns outros Estados na União Europeia. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar na lista dos países com a maior dívida externa líquida do mundo. Em 30 de setembro de 2010 sua dívida externa bruta somava cerca de US$ 14,3 trilhões, praticamente igual ao valor de seu PIB. A vantagem dos Estados Unidos consiste no fato de que o dólar é ainda a moeda fiduciária (fiat currency), a moeda internacional de reserva.


O sr. concorda com a avaliação de que Obama cedeu aos interesses do mercado financeiro e deve ter problemas na reeleição? Em que ele se diferencia de Bush?
O presidente Obama cedeu a todos, ao mercado financeiro, aos neoconservadores, que continuam a dominar a máquina do Estado americano, ao complexo industrial-militar etc. A secretária de Estado Hillary Clinton a ele se sobrepõe na política exterior. E até agora Obama quase nada cumpriu do que prometeu na sua campanha eleitoral. Sua política, na essência, é a mesma da que realizou o presidente George W. Bush. A diferença está no estilo e na tonalidade. Ambos defendem os interesses imperiais dos Estados Unidos.


O que o sr. perguntaria a Obama?
Não vou conversar com o presidente Obama. Nada, portanto, tenho a perguntar.


Fonte: Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/mundo/890640-obama-quer-mercado-e-petroleo-no-brasil-diz-historiador.shtml. Acesso: 18/03/2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

Encontro do mês (março de 2011): O Processo, de Franz Kafka

O processo apresenta ao leitor o drama de Josef K., funcionário respeitado de um banco que, na manhã do seu trigésimo aniversário, é acusado e detido, apesar de não precisar ir para a prisão. A vida de K. se transforma rapidamente já que a partir desse momento passa a ser um suspeito aos olhos de todos, que começam a tratá-lo com desconfiança - inclusive no banco, onde seu trabalho é posto à prova. K. inicia então uma longa peregrinação burocrática na tentativa de descobrir por que o acusam. Ele se embrenha em salas de difícil acesso, cartórios, tribunais com longos corredores, mas sua busca é em vão, pois, como afirma Marcelo Backes no prefácio do livro, os personagens de Kafka 'são vítimas de um enigma insolúvel - a própria vida'. O estranhamento acompanha toda a narrativa. O tempo passa, e K. entra em contato com pessoas - mais ou menos influentes - que nada podem fazer para ajudá-lo. Assim, continua sua infrutífera busca, sem nunca chegar a saber onde está o juiz que ele jamais vê, qual é o alto tribunal ao qual ele nunca é chamado e, principalmente, sob qual acusação é julgado.



Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883, cidade que durante todos os 40 anos da vida do escritor pertenceu à monarquia austro-húngara.

Filho de um abastado comerciante judeu, Kafka cresceu sob as influências de três culturas: a judia, a tcheca e a alemã.

Formado em direito, ele fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico.

Esse híbrido de ironia e lucidez aparece na maioria dos textos de Kafka.

Suas obras também conseguem formalizar e abrigar leituras totalmente relacionadas com a condição do ser humano moderno.O olhar kafkiano é direcionado para coisas como a opressão burocrática das instituições, a "justiça" e a fragilidade do homem comum frente a problemas cotidianos.
O primeiro livro de Kafka foi "Consideração", publicado em 1913.
No ano seguinte à publicação da sua primeira obra, Kafka sofreu uma grande crise emocional.

Alguns estudiosos afirmam que esta crise foi causada por motivo de seu noivado, outros defendem que o autor tcheco teria ficado emocionalmente abalado com início da 1ª Guerra Mundial ocorrido no mesmo ano.
As obras mais famosas de Kafka foram escritas entre 1913 e 1921, são elas: "A Metamorfose", "O Processo", "O Castelo", "O Foguista" (que é na verdade o primeiro capítulo de "América"), "A Sentença" e "O Artista da Fome".

Em 1920, Kafka abandonou seu emprego em uma companhia de seguros por razões de saúde. Havia contraído tuberculose. Nos anos 1920 e 1921, Kafka relacionou-se com a escritora tcheca Milena Jesenká-Pollak, mas seu grande amor foi por uma mulher que conheceria apenas no final de sua vida, Dora Dyamant.



As histórias criadas por esse judeu tcheco que escrevia em alemão deram voz ao indivíduo que caminha nas ruas das grandes cidades contemporâneas. O personagem Gregor Samsa, de Metamorfose, é o homem tornado inseto frente à realidade urbana avassaladora, burocrática e tão cheia de gigantismos. Samsa reproduz a sensação do homem que virou o inseto insignificante das cidades modernas e que, quando em vez, morre aos milhões nos campos de guerra. Nenhum autor representou de forma tão contundente a modernidade. Segundo o crítico literário George Steiner, "o extremismo da posição literária de Kafka (...) torna a estrutura representativa e a centralidade de sua façanha mais notáveis. Nenhuma outra voz foi testemunha mais verdadeira da natureza de nossos tempos."

Para ler Kafka são necessários alguns cuidados especiais, entre eles, contar com uma certa atenção à maneira com que toda obra se constrói, principalmente seus períodos; estar sempre consciente de que toda a criação literária de Kafka foi dolorida, feita com o intuito de não parecer bonita, de ser, principalmente, uma obra baseada na dor; ficar atento a todos os detalhes do texto, pois em Kafka, até as imperfeições são propositais, ou seja, segundo Theodor Adorno, até "as deformações em Kafka são precisas".

Durante sua vida, Kafka nunca conseguiu atingir grande fama com seus livros, porém, algum tempo depois de sua morte, no dia 3 de junho de 1924, em um sanatório perto de Viena, onde internara-se por causa de sua tuberculose, sua obra literária atingiria enorme influência sobre as pessoas, passando a ser cultuada por leitores de quase todo o planeta.

Fonte: Disponível em [http://almanaque.folha.uol.com.br/kafka.htm]. Acesso: 03/04/11