sábado, 6 de setembro de 2014

Leitura do mês de setembro: O Pagador de Promessas, de Dias Gomes

“O pagador de promessas”, de Dias Gomes
 
A história acontece no interior da Bahia, a partir de uma promessa de Zé, que pede à Santa Bárbara a cura para seu burro, ferido por um galho de árvore. Como na cidade não havia uma igreja dedicada à santa, a promessa foi feita em um terreiro de candomblé, onde a santa tem o nome de Iansã. 
Zé do Burro, portando então uma cruz nos ombros, e sua mulher, Rosa, caminham do sertão baiano até Salvador para pagar a promessa. Como chegam lá, de madrugada, têm que esperar o amanhecer nas escadarias da igreja dedicada à santa. Quando o padre chega, Zé do Burro lhe conta que a promessa fora feita num terreiro de candomblé a Iansã, o que leva o padre a impedir que Zé entre na igreja. Obstinado, ele insiste em permanecer, ignorando os apelos da mulher para partirem, até que se torna assunto na cidade e acaba sendo o alvo de um repórter sensacionalista, que, por sua vez, distorce os fatos e o retrata como um messias que apoia a reforma agrária. 
Após muita insistência, o padre tenta persuadi-lo a refazer a promessa para que possa entrar na igreja, mas, desacatando as considerações do eclesiástico, Zé se enfurece e termina autuado pela polícia. Recusa-se a ser detido e tenta desesperadamente entrar na igreja com a cruz para cumprir sua promessa...
A história, também entremeada com a sedução da mulher de Zé do Burro pelo sedutor Bonitão, tem um final que em parte não se cumpre como o próprio personagem central esperava, cabendo, assim, a boa leitura que a obra sugere para que se possa conhecer como termina a promessa de Zé do Burro.
Vale destacar, ainda, que, sendo o dramaturgo brasileiro mais traduzido no exterior, Dias Gomes traz em, O Pagador de Promessas, mais do que a fé de um homem simples, os conflitos entre o Brasil rural e o urbano, muito evidente na onda de modernização que atravessava o país ao longo das décadas de 50 e 60, além do embate em torno das crenças de um povo, cujo sincretismo religioso se choca com o dogmatismo, o ritualismo rigoroso e a burocratização da igreja.
 
Por Paulo Tostes