quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Obra do Mês de Outubro/Novembro: Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda


A obra do mês de outubro é um clássico do pensamento sociológico brasileiro. Ao lado de Casa Grande&Senzalas, de Gilberto Freire e Formação Econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, inaugura um novo modelo de pensar as nossas próprias origens enquanto povo e nação. Enquanto Gilberto Freire vai buscar as nossas origens nos hábitos e costumes cotidianos, em que se sobressai a miscigenação das três "raças"que formaram o povo brasileiro (o branco europeu, o indígena e o africano), Sérgio Buarque de Holanda procura explicar os aspectos econômicos, sociais e culturais de nossa nação no processo de colonização portuguesa ao qual fomos submetidos. Neste sentido, o autor inova com um importante trabalho histórico de fundo sociológico ao trazer a tona as nossas similaridades mais profundas com os nossos colonizadores. Raízes do Brasil tornou-se nacionalmente conhecida por ser uma das primeiras obras do pensamento sociológico brasileiro que pretendeu explicar as particularidades do comportamento do povo brasileiro. Seu capítulo mais famoso,O Homem Cordial, serviu de inspiração para alguns autores buscarem a explicação do famoso "jeitinho brasileiro", o que não parece ser uma particularidade exclusiva de nosso país. Ao comparar o comportamento de nosso povo, sobretudo em relação àquilo que se refere à ordem social  e à legalidade jurídica, Sérgio Buarque estabelece um paralelo muito próximo com o processo de formação da sociedade portuguesa que, em razão de sua precocidade na formação de Estado Nacional, de sua posição geográfica e de sua formação social e econômica, não se atém a fundo na consolidação e na demarcação das ordens sociais e de uma vocação produtiva e econômica que sempre caracterizou algumas das principais nações europeias.


Em seu capítulo O Semeador e o Ladrilhador, o autor oferece talvez a sua maior contribuição no processo de análise da formação histórico-social a partir da formação do Brasil colonial em comparação com o processo de formação histórico-social dos países de colonização espanhola. Neste sentido, enquanto a hispano-América teve o seu processo de formação marcado pela racionalidade na formação dos espaços urbanos e administrativos, sempre localizados mais em direção ao interior, pela ideia de permanência secular e porque não dizer pelo desenvolvimento educacional e cultural para uma elite crioula local, a formação da América portuguesa, segundo o autor, se caracterizou muito mais pela ideia de improvisação e pela dificuldade de estabelecer raízes mais profundas em seu território de dominação.

No entanto, todas essas características não podem ser absorvidas como elementos de má formação de nossa sociedade, como querem ainda alguns analistas influenciados por teorias há muito superadas. O importante, neste aspecto, é perceber as particularidades históricas de nossos colonizadores e não atribuir, na sua totalidade, a eles as razões de nosso atraso.

Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo no dia 11 de julho de 1902 e faleceu no dia 24 de abril de 1982 na mesma cidade aos 80 anos de idade. Ao lado de grandes intelectuais já mencionados, Sérgio Buarque foi um dos mais importantes pensadores do Brasil contemporâneo. É autor de vários trabalhos acadêmicos; além de Raízes do Brasil, publicou "Cobra de  Vidro", 1944; Monções, 1945; Caminhos e Fronteiras, 1957; Visão do Paraíso, 1959; Do Império à República, 1972, entre outros.


Foi diretor do Museu Paulista por dez anos (1946-1956) e em 1948 passou a lecionar na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na Cátedra de História Econômica do Brasil, em substituição a Roberto Simonsen. Após viver na Europa por algum tempo, assumiu, em 1958 a cadeira de "História da Civilização Brasileira" na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Em 1980 participou da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores, recebendo a terceira cadeira de filiação do partido, após Mario Pedrosa e Antônio Cândido. Devido a sua importante e influente participação no partido e na condição de intelectual destacado, o Centro de Documentação e Memória da Fundação Perseu Abramo, recebe o seu nome: Centro Sérgio Buarque de Holanda Documentação e Memória Política. Após algumas décadas de ter nos deixado, Sérgio Buarque de Holanda é mais atual do que nunca. É leitura obrigatória nos cursos e ciências humanas e para aqueles que pretendem uma melhor compreensão do processo de formação histórico, social e político de nossa nação. Ao se tornar um dos fundadores da Universidade de São Paulo, na década de 1930, ele se torna pioneiro em seus trabalhos acadêmicos ao inaugurar uma nova visão interpretativa do Brasil, por meio de uma nova tendência de análise histórico-social.