segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Leitura de Janeiro/2015: Quincas Borba, de Machado de Assis

Quincas Borba é um romance escrito por Machado de Assis, desenvolvido em princípio como folhetim na revista A Estação, entre os anos de 1886 e 1891 para, em 1892, ser publicado definitivamente pela Livraria Garnier. No processo de adaptação de folhetim para livro o autor realizou algumas mudanças mínimas, mas significativas.
Seguindo Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), este livro é considerado pela crítica moderna o segundo da trilogia realista de Machado de Assis, em que o autor esteve preocupado em utilizar o pessimismo e a ironia para criticar os costumes e a filosofia de seu tempo, embora não subtraia resíduos românticos da trama. Ao contrário do romance anterior, no entanto, Quincas Borba foi escrito em terceira pessoa, a fim de contar a história de Rubião, ingênuo rapaz que torna-se discípulo e herdeiro do filósofo Quincas Borba, personagem do romance anterior, e que, sendo enganado por seu amigo capitalista Cristiano e sua esposa Sofia, paixão de Rubião, vive na pele todo o fundamento teórico do Humanitismo, filosofia fictícia daquele filósofo.
Quincas Borba, de fato, foca-se melhor nos temas secundários do romance anterior. Estes incluem uma paródia ao cientificismo e ao evolucionismo da época, bem como ao positivismo de Comte e à lei do mais forte, uma adaptação da seleção natural de Charles Darwin a nível social. O livro tem recebido vários estudos e interpretações ao longo do tempo, sobretudo sociológicos, que o consideram um romance que trata principalmente da transformação do homem em objeto do homem e a sua "coisificação". Quincas Borba, um dos que mais interesse tem despertado em novas edições e traduções para outras línguas, está entre os principais livros da obra machadiana.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quincas_Borba
Para quem se interessar pela obra, está disponível online em: http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/romance/marm07.pdf

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Leitura de Dezembro: O Homem na Multidão, de Edgar Allan Poe


O narrador da história, senta-se num café em Londres a observar a multidão, lá fora. Passa o tempo a classificar por tipos as pessoas que observa até que a noite começa a cair. Prende a sua atenção num homem, já decrépito, com sessenta e cinco a setenta anos de idade. O narrador sai do café com o objetivo de seguir o homem através da multidão.
Curiosidades:
Em 1840, Londres era a cidade mais populosa do mundo, com cerca de 700.000 habitantes.
Excerto:
«Os estranhos efeitos da luz levaram-me a examinar o rosto de cada pessoa; e, apesar de a rapidez com que esse mundo de luz se escapava diante da janela me impedir de lançar mais do que um fugaz relance a: cada uma das fisionomias, parecia-me de qualquer modo que, no meu singular estado mental do momento, podia frequentemente detectar, mesmo nesse breve intervalo de um relance, a história de longos anos. »

Para ler o livro: http://www.livros-digitais.com/edgar-allan-poe/o-homem-da-multidao/1

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Obra do Mês de Outubro/Novembro: Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda


A obra do mês de outubro é um clássico do pensamento sociológico brasileiro. Ao lado de Casa Grande&Senzalas, de Gilberto Freire e Formação Econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, inaugura um novo modelo de pensar as nossas próprias origens enquanto povo e nação. Enquanto Gilberto Freire vai buscar as nossas origens nos hábitos e costumes cotidianos, em que se sobressai a miscigenação das três "raças"que formaram o povo brasileiro (o branco europeu, o indígena e o africano), Sérgio Buarque de Holanda procura explicar os aspectos econômicos, sociais e culturais de nossa nação no processo de colonização portuguesa ao qual fomos submetidos. Neste sentido, o autor inova com um importante trabalho histórico de fundo sociológico ao trazer a tona as nossas similaridades mais profundas com os nossos colonizadores. Raízes do Brasil tornou-se nacionalmente conhecida por ser uma das primeiras obras do pensamento sociológico brasileiro que pretendeu explicar as particularidades do comportamento do povo brasileiro. Seu capítulo mais famoso,O Homem Cordial, serviu de inspiração para alguns autores buscarem a explicação do famoso "jeitinho brasileiro", o que não parece ser uma particularidade exclusiva de nosso país. Ao comparar o comportamento de nosso povo, sobretudo em relação àquilo que se refere à ordem social  e à legalidade jurídica, Sérgio Buarque estabelece um paralelo muito próximo com o processo de formação da sociedade portuguesa que, em razão de sua precocidade na formação de Estado Nacional, de sua posição geográfica e de sua formação social e econômica, não se atém a fundo na consolidação e na demarcação das ordens sociais e de uma vocação produtiva e econômica que sempre caracterizou algumas das principais nações europeias.


Em seu capítulo O Semeador e o Ladrilhador, o autor oferece talvez a sua maior contribuição no processo de análise da formação histórico-social a partir da formação do Brasil colonial em comparação com o processo de formação histórico-social dos países de colonização espanhola. Neste sentido, enquanto a hispano-América teve o seu processo de formação marcado pela racionalidade na formação dos espaços urbanos e administrativos, sempre localizados mais em direção ao interior, pela ideia de permanência secular e porque não dizer pelo desenvolvimento educacional e cultural para uma elite crioula local, a formação da América portuguesa, segundo o autor, se caracterizou muito mais pela ideia de improvisação e pela dificuldade de estabelecer raízes mais profundas em seu território de dominação.

No entanto, todas essas características não podem ser absorvidas como elementos de má formação de nossa sociedade, como querem ainda alguns analistas influenciados por teorias há muito superadas. O importante, neste aspecto, é perceber as particularidades históricas de nossos colonizadores e não atribuir, na sua totalidade, a eles as razões de nosso atraso.

Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo no dia 11 de julho de 1902 e faleceu no dia 24 de abril de 1982 na mesma cidade aos 80 anos de idade. Ao lado de grandes intelectuais já mencionados, Sérgio Buarque foi um dos mais importantes pensadores do Brasil contemporâneo. É autor de vários trabalhos acadêmicos; além de Raízes do Brasil, publicou "Cobra de  Vidro", 1944; Monções, 1945; Caminhos e Fronteiras, 1957; Visão do Paraíso, 1959; Do Império à República, 1972, entre outros.


Foi diretor do Museu Paulista por dez anos (1946-1956) e em 1948 passou a lecionar na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na Cátedra de História Econômica do Brasil, em substituição a Roberto Simonsen. Após viver na Europa por algum tempo, assumiu, em 1958 a cadeira de "História da Civilização Brasileira" na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Em 1980 participou da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores, recebendo a terceira cadeira de filiação do partido, após Mario Pedrosa e Antônio Cândido. Devido a sua importante e influente participação no partido e na condição de intelectual destacado, o Centro de Documentação e Memória da Fundação Perseu Abramo, recebe o seu nome: Centro Sérgio Buarque de Holanda Documentação e Memória Política. Após algumas décadas de ter nos deixado, Sérgio Buarque de Holanda é mais atual do que nunca. É leitura obrigatória nos cursos e ciências humanas e para aqueles que pretendem uma melhor compreensão do processo de formação histórico, social e político de nossa nação. Ao se tornar um dos fundadores da Universidade de São Paulo, na década de 1930, ele se torna pioneiro em seus trabalhos acadêmicos ao inaugurar uma nova visão interpretativa do Brasil, por meio de uma nova tendência de análise histórico-social.





sábado, 6 de setembro de 2014

Leitura do mês de setembro: O Pagador de Promessas, de Dias Gomes

“O pagador de promessas”, de Dias Gomes
 
A história acontece no interior da Bahia, a partir de uma promessa de Zé, que pede à Santa Bárbara a cura para seu burro, ferido por um galho de árvore. Como na cidade não havia uma igreja dedicada à santa, a promessa foi feita em um terreiro de candomblé, onde a santa tem o nome de Iansã. 
Zé do Burro, portando então uma cruz nos ombros, e sua mulher, Rosa, caminham do sertão baiano até Salvador para pagar a promessa. Como chegam lá, de madrugada, têm que esperar o amanhecer nas escadarias da igreja dedicada à santa. Quando o padre chega, Zé do Burro lhe conta que a promessa fora feita num terreiro de candomblé a Iansã, o que leva o padre a impedir que Zé entre na igreja. Obstinado, ele insiste em permanecer, ignorando os apelos da mulher para partirem, até que se torna assunto na cidade e acaba sendo o alvo de um repórter sensacionalista, que, por sua vez, distorce os fatos e o retrata como um messias que apoia a reforma agrária. 
Após muita insistência, o padre tenta persuadi-lo a refazer a promessa para que possa entrar na igreja, mas, desacatando as considerações do eclesiástico, Zé se enfurece e termina autuado pela polícia. Recusa-se a ser detido e tenta desesperadamente entrar na igreja com a cruz para cumprir sua promessa...
A história, também entremeada com a sedução da mulher de Zé do Burro pelo sedutor Bonitão, tem um final que em parte não se cumpre como o próprio personagem central esperava, cabendo, assim, a boa leitura que a obra sugere para que se possa conhecer como termina a promessa de Zé do Burro.
Vale destacar, ainda, que, sendo o dramaturgo brasileiro mais traduzido no exterior, Dias Gomes traz em, O Pagador de Promessas, mais do que a fé de um homem simples, os conflitos entre o Brasil rural e o urbano, muito evidente na onda de modernização que atravessava o país ao longo das décadas de 50 e 60, além do embate em torno das crenças de um povo, cujo sincretismo religioso se choca com o dogmatismo, o ritualismo rigoroso e a burocratização da igreja.
 
Por Paulo Tostes
 
 
 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Leitura de julho/agosto: O Cemitério de Praga, de Humberto Eco

No mês de junho, o grupo Prazer da Leitura conheceu o escritor Humberto Eco em seu estilo acadêmico, ao ler o ensaio Seis Passeios pelo Bosque da Ficção. Agora, visto o tamanho da obra e exigência de atenção, passamos a conhecer o Humberto Eco romancista, através da obra Cemitério de Praga. Dividimos a leitura em duas partes: 1) Capítulos: 1º ao 15º em julho e 2) Capítulos 16º a0 27º em agosto.

Segue uma breve sinopse, cuja fonte autoral está ao fim da postagem:

O mais importante intelectual italiano vivo, imbatível nos estudos de semiótica, Umberto Eco é, também, um romancista de talento incomparável. Mestre em criar tramas engenhosas, capazes de mesclar vários níveis de linguagem, personagens e ações, se tornou conhecido mundo afora com o sucesso de público e crítica O nome da rosa. Três décadas depois desse estupendo thriller, Eco retorna com um dos mais antecipados — e controversos — livros dos últimos anos: O cemitério de Praga. Quatrocentos mil exemplares vendidos na Itália em um mês.

Um tratado sobre o mecanismo do ódio, e espécie de síntese da história do preconceito, o livro causou desconforto em setores mais conservadores da sociedade italiana, principalmente entre religiosos, por misturar personagens históricos a um anti-herói fictício, cínico e maquiavélico, capaz de tudo para conseguir se vingar de padres, jesuítas, comunistas, mas, principalmente, dos judeus. Repleto de teorias da conspiração, falsificações, assuntos maçônicos e detalhes da unificação italiana, é no antisemitismo que repousa o coração da narrativa.

O cemitério de Praga também lembra um dos mais impressionantes episódios de falsificação da história: Os protocolos dos sábios de Sião, um texto forjado pela polícia secreta do Czar Nicolau II para justificar a perseguição aos judeus. Os escritos, que se acredita terem sido baseados em um texto francês — Diálogos no inferno entre Maquiável e Montesquieu — descreviam um suposto plano para a dominação mundial pelos israelitas. E serviriam de inspiração a Hitler para os campos de concentração. 

O odioso Simonini, que o próprio autor define como um dos mais repulsivos personagens literários já criados, é um mestre do disfarce e da conspiração. Um falsário a serviço de vários governos. Do nordeste italiano até a Sicília de Garibaldi, das favelas de Paris às tabernas alemãs, passando por missas negras, o bombardeio a Napoleão III, a Comuna de Paris, o caso Dreyfus, o Ressurgimento, Simonini é todas as revoluções, as más escolhas, os erros do século XIX, que Eco reconstrói com grande rigor histórico, entre tomadas de poder e revoluções.


Divulgação.
Com ares de novo clássico, O cemitério de Praga leva as mentiras históricas a novos patamares e revela, ainda, ferramentas usadas por falsários e propagandistas. Um trabalho memorável de filosofia da história e a natureza da ficção. Eco em sua melhor forma.

“Eco vence o desafio de inovar seu próprio gênero, sem perder o leitor acostumado às aventuras físicas e intelectuais dos romance erudito. Mostra que ainda é – para usar um termo que ele não aprovaria – o papa do suspense erudito”, Luis Antônio Giron para a revista Época".


 
Eis um trecho do livro:

"Os padres... Como os conheci? Na casa do vovô, creio; tenho a obscura lembrança de olhares fugidios, dentaduras estragadas, hálitos pesados, mãos suadas que tentavam me acariciar a nuca. Que nojo. Ociosos, pertencem às classes perigosas, como os ladrões e os vagabundos. O sujeito se faz padre ou frade só para viver no ócio, e o ócio é garantido pelo número deles. Se fossem, digamos, um em mil almas, os padres teriam tanto o que fazer que não poderiam ficar de papo para o ar comendo capões. E entre os padres
mais indignos o governo escolhe os mais estúpidos, e os nomeia bispos.

Você começa a tê-los ao seu redor assim que nasce, quando o batizam; reencontra-os na escola, se seus pais tiverem sido suficientemente carolas para confiá-lo a eles; depois, vêm a primeira comunhão, o catecismo e a crisma; lá está o padre no dia do seu casamento, a lhe dizer o que você deve fazer no quarto; e no dia seguinte, no confessionário, a lhe perguntar, para poder se excitar atrás da treliça, quantas vezes você fez aquilo. Falam-lhe do sexo com horror, mas todos os dias você os vê sair de um leito incestuoso sem sequer lavar as mãos, e vão comer e beber o seu Senhor, para depois cagá-lo e mijá-lo.

Repetem que seu reino não é desse mundo, e metem as mãos em tudo o que podem roubar. A civilização não alcançará a perfeição enquanto a última pedra da última igreja não houver caído sobre o último padre, e a Terra estiver livre dessa corja.

Os comunistas difundiram a ideia de que a religião é o ópio dos povos. É verdade, porque serve para frear as tentações dos súditos, e se não existisse a religião haveria o dobro de pessoas sobre as barricadas,
ao passo que nos dias da Comuna não eram suficientes e foi possível dispersá-las sem muito trabalho. Mas, depois que escutei aquele médico austríaco falar das vantagens da droga colombiana, eu diria que a religião é também a cocaína dos povos, porque a religião impeliu e impele às guerras, aos massacres dos infiéis, e isso vale para cristãos, muçulmanos e outros idólatras, e, se os negros da África se limitavam a se massacrar entre si, os missionários os converteram e os fizeram tornar-se tropa colonial, adequadíssima a morrer na primeira linha e a estuprar as mulheres brancas quando entram em uma cidade. Os homens nunca fazem o mal tão completa e entusiasticamente como quando o fazem por convicção religiosa".