A
obra do mês de outubro é um clássico do pensamento sociológico brasileiro. Ao
lado de Casa Grande&Senzalas, de Gilberto Freire e Formação Econômica do
Brasil, de Caio Prado Júnior, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda,
inaugura um novo modelo de pensar as nossas próprias origens enquanto povo e
nação. Enquanto Gilberto Freire vai buscar as nossas origens nos hábitos e
costumes cotidianos, em que se sobressai a miscigenação das três
"raças"que formaram o povo brasileiro (o branco europeu, o indígena e
o africano), Sérgio Buarque de Holanda procura explicar os aspectos econômicos,
sociais e culturais de nossa nação no processo de colonização portuguesa ao
qual fomos submetidos. Neste sentido, o autor inova com um importante trabalho
histórico de fundo sociológico ao trazer a tona as nossas similaridades mais
profundas com os nossos colonizadores. Raízes do Brasil tornou-se nacionalmente
conhecida por ser uma das primeiras obras do pensamento sociológico brasileiro
que pretendeu explicar as particularidades do comportamento do povo brasileiro.
Seu capítulo mais famoso,O Homem Cordial, serviu de inspiração para
alguns autores buscarem a explicação do famoso "jeitinho brasileiro",
o que não parece ser uma particularidade exclusiva de nosso país. Ao comparar o
comportamento de nosso povo, sobretudo em relação àquilo que se refere à ordem
social e à legalidade jurídica, Sérgio Buarque estabelece um paralelo
muito próximo com o processo de formação da sociedade portuguesa que, em razão
de sua precocidade na formação de Estado Nacional, de sua posição geográfica e
de sua formação social e econômica, não se atém a fundo na consolidação e na
demarcação das ordens sociais e de uma vocação produtiva e econômica que sempre
caracterizou algumas das principais nações europeias.
Em seu capítulo O Semeador e o
Ladrilhador, o autor oferece talvez a sua maior contribuição no processo de
análise da formação histórico-social a partir da formação do Brasil colonial em
comparação com o processo de formação histórico-social dos países de
colonização espanhola. Neste sentido, enquanto a hispano-América teve o seu
processo de formação marcado pela racionalidade na formação dos espaços urbanos
e administrativos, sempre localizados mais em direção ao interior, pela ideia
de permanência secular e porque não dizer pelo desenvolvimento educacional e
cultural para uma elite crioula local, a formação da América
portuguesa, segundo o autor, se caracterizou muito mais pela ideia de
improvisação e pela dificuldade de estabelecer raízes mais profundas em seu
território de dominação.
No entanto, todas essas características não podem ser absorvidas como elementos de má formação de nossa sociedade, como querem ainda alguns analistas influenciados por teorias há muito superadas. O importante, neste aspecto, é perceber as particularidades históricas de nossos colonizadores e não atribuir, na sua totalidade, a eles as razões de nosso atraso.
No entanto, todas essas características não podem ser absorvidas como elementos de má formação de nossa sociedade, como querem ainda alguns analistas influenciados por teorias há muito superadas. O importante, neste aspecto, é perceber as particularidades históricas de nossos colonizadores e não atribuir, na sua totalidade, a eles as razões de nosso atraso.
Sérgio
Buarque de Holanda nasceu em São Paulo no dia 11 de julho de 1902 e faleceu no
dia 24 de abril de 1982 na mesma cidade aos 80 anos de idade. Ao lado de
grandes intelectuais já mencionados, Sérgio Buarque foi um dos mais importantes
pensadores do Brasil contemporâneo. É autor de vários trabalhos acadêmicos;
além de Raízes do Brasil, publicou "Cobra de Vidro", 1944;
Monções, 1945; Caminhos e Fronteiras, 1957; Visão do Paraíso, 1959; Do Império
à República, 1972, entre outros.
Foi
diretor do Museu Paulista por dez anos (1946-1956) e em 1948 passou a lecionar
na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na Cátedra de História
Econômica do Brasil, em substituição a Roberto Simonsen. Após viver na Europa
por algum tempo, assumiu, em 1958 a cadeira de "História da Civilização
Brasileira" na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo.
Em
1980 participou da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores,
recebendo a terceira cadeira de filiação do partido, após Mario Pedrosa e
Antônio Cândido. Devido a sua importante e influente participação no partido e
na condição de intelectual destacado, o Centro de Documentação e Memória da
Fundação Perseu Abramo, recebe o seu nome: Centro Sérgio Buarque de Holanda
Documentação e Memória Política. Após algumas décadas de ter nos deixado,
Sérgio Buarque de Holanda é mais atual do que nunca. É leitura obrigatória nos
cursos e ciências humanas e para aqueles que pretendem uma melhor compreensão
do processo de formação histórico, social e político de nossa nação. Ao se
tornar um dos fundadores da Universidade de São Paulo, na década de 1930, ele
se torna pioneiro em seus trabalhos acadêmicos ao inaugurar uma nova visão
interpretativa do Brasil, por meio de uma nova tendência de análise
histórico-social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário