domingo, 25 de novembro de 2012

11ª edição do Festival de Cinema Primeiro Plano

Uma maratona de filmes, entre curtas e longas, além de oficinas e debates sobre a produção audiovisual, é o que a 11ª edição do Festival de Cinema Primeiro Plano promete para a semana que começa. Destaque para o filme argentino " O estudante", longa que abre o festival amanhã, às 20h, no Espaço Alameda de Cinema, ao lado dos curtas "Fim de mês", do professor da Faculdade de Comunicação Social da UFJF, Nilson Alvarenga, e "O próximo", de Yuri Westermann, vencedor do Incentivo Primeiro Plano 4, prêmio concedido ao melhor curta-metragem da mostra competitiva regional. Destaque também para o curta "A galinha que burlou o sistema", realizado pelo jovem cineasta Quico Meirelles, filho do diretor Fernando Meirelles ("Cidade de Deus", "O jardineiro fiel" e "Ensaio sobre a cegueira"). O filme, premiado em festivais nacionais e estrangeiros, será exibido em duas oportunidades no Primeiro Plano, ambas no Alameda, sendo a primeira na terça, às 19h, quando participa da mostra competitiva nacional, e a segunda, na sexta, às 10h, durante a Sessão Jovem.
A presença de trabalhos de jovens universitários de Juiz de Fora e região é uma característica marcante do festival. No entanto, na edição deste ano, chama a atenção o fato de haver filmes dirigidos por professores da UFJF, tanto do curso de Comunicação Social quanto do curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design (IAD). A presença desses filmes é resultado da aproximação do trabalho de pesquisa e ensino com a prática cinematográfica desenvolvida pelos docentes. "Não entendo em momento nenhum que esses campos se separam, seja a prática reflexiva e didática, em sala de aula e em orientações de trabalhos de alunos, ou o exercício de pensamento envolvido na busca de formas de comunicação com o público que a realização cinematográfica propicia", reflete Nilson Alvarenga, diretor do curta "Fim de mês", um dos trabalhos que abrem o festival. "É um roteiro de 2003. Estava na gaveta, quando decidimos montar o projeto e enviar para a Lei Murilo Mendes. Fomos aprovados com o valor integral e pudemos gravar tudo em janeiro deste ano. O curta foi gravado em cinco dias, em locações no Bairro Carlos Chagas e no Centro da cidade. Investi mais no estilo, na maneira de contar a história do que propriamente numa trama mirabolante. Esse estilo, mais até do que o tema, está relacionado diretamente com as cosias que pesquiso e com as quais procuro trabalhar com os meus alunos. Nesse sentido, o estilo buscado no filme nasce tanto do contato com os diretores de que gosto muito quanto da experiência de ensino, na qual busco diferenciar com os alunos as diversas formas de contar uma história no cinema."

Representando o gênero documentário, Karla Holanda, diretora e professora do Curso de Cinema e Audiovisual da UFJF, traz ao festival seu filme "Kátia", projeto selecionado em dois dos festivais mais prestigiados do país, o Festival de Brasília e a Mostra Internacional de São Paulo. O filme ainda será exibido no Festival Mix Brasil, no Rio de Janeiro, antes de ser lançado comercialmente nos cinemas, em 2013. "Kátia" foi selecionado no cobiçado prêmio Petrobrás de Cinema, na categoria longa/digital, em 2010. O filme, finalizado esse ano, com 74 minutos de duração, tem como personagem principal Kátia Tapety, moradora de uma pequena cidade no interior do Piauí, a primeira travesti a se eleger a um cargo político no país. "Primeiro, eu me encantei com a história da personagem. Seu feito político, na verdade, se tornou secundário quando a conheci. Ela abriga muito mais dilemas e contradições do que isso. A impactante conquista que sua trajetória representa aos direitos humanos vem de um lugar inesperado, o interior de um estado tão pobre como o Piauí, região geralmente associada a um atraso generalizado e como se lá houvesse machismo e preconceito mais acentuados que no resto do país", explica Karla.
Inserido no projeto em que o próprio autor - o professor do IAD Sérgio Puccini - define como "Filme mínimo" e que reúne alguns trabalhos seus, realizados a partir do uso de tecnologias baratas e defasadas, o curta-metragem "Filme mínimo #4: Canções" nasceu de uma experiência doméstica improvisada do professor com uma antiga câmera mini-DV, encostada a tempos. "Gosto muito da ideia de se trabalhar com esses aparelhos amadores, tecnologias defasadas, de baixa resolução, e tentar fazer exercícios de criação dentro das limitações impostas por esses suportes. Esse curta é resultado disso, um único plano-sequência de aproximadamente cinco minutos, com a câmera desfocada, sobre o qual são inseridos flashes de alguns textos que de certa forma comentam, ou complementam, aquilo que estamos vendo", explica Sérgio, que também valoriza o intercâmbio entre a docência e a prática. "Para mim, existe uma via de mão dupla entre teoria e prática, uma alimentando a outra. Essa ideia de estabelecer uma relação indissociável entre ambas é preocupação comum entre todos os professores do curso de Cinema e Audiovisual da UFJF."
Buscando superar o baixo orçamento por meio da linguagem cinematográfica, o cineasta, pesquisador e professor Luis Rocha Melo, responsável pelo longa de ficção "Nenhuma fórmula para a contemporânea visão de mundo", uma comédia sobre as dificuldades de se viver da criação artística no Brasil, argumenta que entender o cinema como um instrumento de criação para além das fórmulas pré-estabelecidas pelo mercado é justamente o que se deve fazer no âmbito do ensino.

Fonte: Por Marcio Corino, jornalista do jornal Tribuna de Minas. Disponível em: http://www.tribunademinas.com.br/cultura/mestres-na-direc-o-1.1192030. Acesso: 25/11/2012

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