quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

MOMENTO POESIA

CERCA DE GRANDES MUROS QUEM TE SONHAS

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Ponha muitas flores, as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o veja não ponha nada.
Faça canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como vai mostrar.
Mas onde é teu, e nunca ninguém o vê,
Deixe as flores que vêm do chão crescer
E deixe as ervas naturais medrar.
Faça de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e olhe, possa
Saber mais que um jardim de quem você é.
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem você vê...

(Fernando Pessoa)


O QUE O VENTO NÃO LEVOU...

No fim tu hás de ver
que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo,
um carinho no momento preciso,
o folhear de um livro de poemas,
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

(Mário Quintana)



De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que estamos sempre a começar,
a certeza de que é preciso continuar,
e a certeza de que seremos interrompidos
antes de terminar...
(Fernando Sabino)
Portanto, devemos fazer
da interrupção um caminho novo,
da queda, um passo de dança,
do medo, uma escada,
do sonho, uma ponte,
da procura, um encontro.
(Fernando Sabino)

Um comentário:

  1. Caro Marcelo,

    A seleção das poesias está perfeita. Inclusive, no atual momento e estado de espírito, me identifiquei mais com a do Fernando Sabino.
    Abraços

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