quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cia. das Letras fecha acordo com a Ateliê Editorial para publicar os sete volumes da obra de Pedro Nava

Companhia das Letras fecha acordo com Ateliê editorial e adquire o direito de publicação dos sete volumes das memórias do juiz-forano Pedro Nava. "Ele está na primeira constelação dos escritores brasileiros", destaca o diretor-executivo da editora, Matinas Suzuki, que já havia anunciado o contrato firmado com a família de Carlos Drummond de Andrade. "Quem diz isso não somos nós, da Companhia, mas gente da autoridade de um Carlos Drummond, um Paulo Mendes Campos, um Otto Lara Resende, um Antonio Candido ou um Davi Arrigucci Jr.". Segundo Suzuki, a negociação prevê ainda uma ampla divulgação, já que, em 2012, comemoram-se 40 anos da publicação de "Baú de ossos".


Para a professora da Faculdade de Letras da UFJF, Terezinha Scher, por ter excelente conceito enquanto editora e distribuidora, a Companhia das Letras investe muito em popularizar obras de nomes relevantes para a pesquisa literária, como José Saramago, Vinicius de Moraes, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles e Érico Veríssimo. "Eles têm uma projeção fora do país, muito devido à amizade que Luiz Schwarcz (diretor) mantém com a família de Saramago", ressalta. "Drummond é, talvez, um dos maiores escritores em língua portuguesa do século XX, pelos seus quase 70 anos de produção em poesia, prosa, crônicas etc. Já Pedro Nava, bem menos conhecido, começou a escrever mais tarde, pois havia exercido medicina anteriormente", comenta Terezinha, sugerindo edições voltadas para estudantes, mais baratas, menos sofisticadas e no formato de bolso.


A pesquisadora Leila Barbosa acrescenta: "Ele é nosso, todo mundo sabe, mas foi embora. Mesmo assim, se firmou como o maior memorialista em língua portuguesa, por isso merece ser mais divulgado. É da ordem do mundo afora, mas ele (Pedro Nava) vai continuar o 'Homem do Caminho Novo'." O maior desafio, conforme Matinas Suzuki, é aumentar a presença de Nava entre os leitores mais jovens.



Negociação


A partir de 1998, a Ateliê Editorial e a Editora Giordano iniciaram o resgate do acervo literário de Pedro Nava. Este pacote engloba todas as memórias do autor, incluindo o volume "Cera das almas", publicado em livro pela primeira vez naquela época. Mesmo inacabada, a obra registra os últimos momentos do escritor mineiro.


"Como toda a negociação foi em clima de bastante cordialidade, creio que o mais difícil começa agora: planejarmos edições que estejam à altura da importância de um escritor como ele", assegura Suzuki.


Mais de uma década se passou, e os feitos do juiz-forano continuam atraindo a atenção de admiradores e pesquisadores do ramo. Professora de francês, Cristina Villaça concluiu doutorado em literatura comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF), abordando a correlação entre Nava médico e escritor. "Ele só começou a escrever depois da aposentadoria, pois havia um certo preconceito. 'Um médico literato era um profissional menor' como ele dizia. A partir daí, ele passou a soltar tudo o que estava preso."


De acordo com ela, antes mesmo de publicar as memórias, Nava havia escrito muitos artigos médicos, com teor literário, como "Capítulos da história da medicina do Brasil" e "Território de Epidauro" (cidade grega, templo de Asclépio, o deus da medicina). Tudo isto veio a explodir em suas memórias, pois os artigos ficaram dormidos até os anos 2000, quando sua família os publicou", acrescenta.


Para concluir o mestrado e doutorado debruçada sobre a obra de Nava, Cristina teve de recorrer ao sobrinho-herdeiro (Paulo Penido), detentor do arquivo doado pelo autor à Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio. "Haviam, inclusive, escritos inéditos por lá, que, devido à importância do nome da Companhia das Letras, podem vir a ser reeditados", finaliza.



Genialidade para recortar a vida


No lado esquerdo do papel almaço, Pedro Nava datilografava o texto, no lado direito, ia colando recortes de jornal, bilhetes e postais, anotando pensamentos. Assim organizava o arquivo para depois transformá-los em texto literário. "Ele juntava as memórias, que não eram só de família, mas da cidade e do tempo em que vivia", enfatiza Cristina Villaça, exemplificando o trabalho produzido para codificar Belo Horizonte na década de 1920. Neste período, passou a conviver com os modernistas mineiros, como Carlos Drummond de Andrade.

Fonte: Disponívem em [http://www.tribunademinas.com.br/cultura/memorias-relembradas-1.455540]. Acesso: 28/04/11

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