sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Subjetividades femininas


            As mulheres são indefiníveis, indecifráveis e surpreendentes, nossos finais felizes nem sempre preveem príncipes encantados ou castelos, mas a gente quer ser feliz, como não existe fórmula para isso, vamos tentando à nossa maneira, nem sempre o final é tão feliz assim, mas é sempre a nossa cara, do nosso jeito: surpreendente. Afinal de contas, acreditamos que gotas de felicidade valem mais que o final feliz da última página do livro.
 Traçar o perfil feminino é quase impossível, porque mulher diferente de carro, de videogame ou de computador, não vem com manual de instrução padronizado, cada uma tem o seu e vai sendo construído ao longo da vida, muitas vezes reescrito, nós somos um grande rascunho do que desejamos ser. Vejamos algumas:

1) Independente, bom emprego, atleta, idade da loba, bem resolvida, um dia perdeu o marido, saiu para comprar cigarros e não voltou. Bem feito para ele, ela ganhou mais tempo para sua ginástica e para os amigos. Está sozinha? Não, a solidão aparecia quando vivia acompanhada com o comprador de cigarros fujão.
2) Todo poderosa, mandava, desmandava, fazia e acontecia, cheia de poder, controlava tudo, só esqueceu de controlar a própria vida, um dia perdeu o poder, sumiu, desapareceu, ninguém mais viu, mas todo mundo gostou, tem gente que parte e não deixa saudades.
3) Jovem, conheceu o marido pela internet, mudou de cidade, de emprego, de estado civil, mudou de emprego novamente, uma duas, três vezes, só não quer mudar de marido, pois as mudanças começaram por causa dele.
4) Fez 30 anos entrou em crise, a crise passou, ficou mais bonita, mais sensual, demorou  perceber que não estava envelhecendo, estava tornando-se mulher no sentido lato da palavra, mais dona de si. Fez 33 e ameaçou outra crise, mas também passou. Quer fazer uma tatuagem, mas acha que é coisa de adolescente ou de mulher em crise, tem medo do que os outros vão pensar. Descobriu que viver também é amadurecer.
5) Casou-se aos 25, aos 30 já tinha dois filhos, marido, sogra, papagaio, periquito, um cachorro de estimação do filho pequeno, sua vida seria quase perfeita, se não fosse a sogra que insiste em levar a sobremesa preferida do marido todos os domingos.
6) Boa aluna, engravidou aos 15, atrasou a entrada na faculdade. Está com 22 e vai levar o filho para vê-la colando grau. Pensa em casar, mas não sabe quando.
7) Apaixonou-se loucamente pelo amigo do primo do vizinho, vivia esperando ele ligar, até que um dia ele ligou, ela conversou dois minutos e percebeu que ele era superficial, ele continua ligando, mas ela parou de atender faz tempo, achou o vizinho mais interessante, e nem precisa gastar créditos do celular.
8) Ela queria namorar, arrumou um namorado meia boca: meio bobão, meio sem jeito, sem graça, faltava-lhe um quê. Desfilou com ele por aí, apresentou para as amigas, confessou que estava apaixonada, mas depois cansou. Agora ele fica andando atrás dela, e ela querendo um outro namorado, mas ele atrapalha. Um dia ele também se cansa dela, então, ela ficará novamente procurando alguém menos meia boca.  
9) Tem entre 40 e 45 anos, casou-se como as mocinhas de sua idade, de véu, grinalda, na igreja, teve filhos, alegrias, mas não aguenta mais olhar para a cara do marido, acredita que a única coisa boa que fizeram foram os filhos.
10) Sonhadora, guerreira, sonhava em poder trabalhar em sua área de formação, pois é apaixonada pelo que faz,  morar em sua casinha na roça, ficar bem com os pais e o namorado. Conseguiu! Agora já começa a fazer muitos outros planos e sonhar além do que tinha sonhado, porque mulher é assim, só as princesas das histórias se contentam com o príncipe e o castelo, a gente quer sempre mais. Muito mais!!!

A crônica acima foi escrita em homenagem às presonagens Marie e Sônia - dos livros O Estrangeiro e Crime e Castigo respectivamente.
                                                                        Carla Machado
                                                                           Dezembro de 2011.

Um comentário:

  1. Eu sou suspeito para falar da Carla, logo do seu escrito. Assim, me limitarei a dizer que é um excelente texto, onde a voz feminina ganha voz/aparece, onde tantas vezes é abafada ou simplesmente colocada em segundo plano.

    ResponderExcluir