segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Conto: Runas, de Raphael Reis

Runas

A imortalidade, corroborada pelo contato, nem sempre sutil, entre os dois mundos prováveis, mostra uma superioridade do espiritual sobre o material. Afinal, o último é uma cópia imperfeita do primeiro e governada por este, em última instância.
Os oráculos, expressão máxima dos desígnios do invisível, revelam por ora os destinos dos meros mortais.
Os oráculos dos vikings, temidos piratas bárbaros, revelavam numa espécie de alfabeto, o que eles deveriam fazer. Eram chamados de runas e somente quem os decifrava era o runemal, após ritual que envolvia fumo, bebida e a interpretação dos gravetos que caiam ao chão.
Nas ruínas em que se encontravam, alguns vikings se reuniram entorno da chama sagrada. O guerreiro-chefe, Hasley, contemplava o fogo enquanto os demais bebiam e comiam. Mandou jogar as runas e pediu ao runemal mais velho que as interpretasse. 
O runemal, depois de tragadas repetitivas e ao sabor de uma bebida forte, lançou os gravetos ao ar. Enquanto isso, todos os outros o acompanhavam em silêncio. Olhou para os gravetos e com voz alta dizia: “Uma guerra está por vir. Espere uma nova mensagem”.
O guerreiro Hasley voltou-se para o fogo; os demais continuaram suas conversas.
Em outro povoado, não viking, outro oráculo comunicava que uma guerra estava por vir, e que poderosos guerreiros do norte viriam com fúria, e a única coisa que poderia salvá-los seria o distante oráculo de Delfos. Neste, as pitonisas disseram que o oráculo não se pronunciava em assuntos alheios.
Sem alternativa, o povoado inimigo pensou em persuadir o oráculo dos vikings. Para isso, abordou o principal runemal do povoado viking e lhe deu muito ouro e promessas de terras para evitar a temida guerra.
Ao chegar ao seu povoado, o runemal disse ao guerreiro Hasley que já estava na hora de se decidir pela guerra, ou não. O guerreiro, então, lhe pediu que jogasse as runas – o que foi feito de imediato.
Ao fim, o resultado era para que ele não declarasse guerra, pois seria catastrófico para os vikings. Antes que o runemal pegasse os gravetos no chão, o guerreiro-chefe lhe impediu o propósito, segurando-o pelas mãos. Em seguida, pediu a dois jovens runemais que fizessem a interpretação dos símbolos. Os dois se entreolharam; fizeram o ritual de costume; olharam para as runas e para o velho runemal; tremendo disseram ao guerreiro: “não há o que temer”.
No dia seguinte escutava-se o barulho das espadas e dos escudos. Muito fogo e fumaça acinzentaram o cenário. A água do rio estava tão vermelha como o corpo do velho runemal.
                                                                                                                       Outono de 2010.
                                                                                                                                   Para Leandro Rust

Por Raphael Reis

2 comentários:

  1. Muito bem escrito!!
    Gratulo mia amiko!
    Abraço, Júlia Alvim

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  2. Muito legal!! Palavras bem colocadas!!Abraço

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