sábado, 1 de outubro de 2011

Livro do mês (setembro de 2011): Entre Quatro Paredes, de Jean Paul-Sartre



"Se um certo Jean-Paul Sartre for lembrado, eu gostaria que as pessoas recordassem o meio e a situação histórica em que vivi, todas as aspirações que eu tentei atingir. É dessa maneira que eu gostaria de ser lembrado." Essa declaração foi feita por Sartre durante uma entrevista, cinco anos antes de morrer. Na mesma ocasião, disse que gostaria que as pessoas se lembrassem dele por seu primeiro romance, "A Náusea", e duas de suas obras filosóficas, a "Crítica da Razão Dialética" e o ensaio sobre Jean Genet.

Jean-Paul Sartre influenciou profundamente sua geração e a seguinte. Foi um mestre do pensamento e seu exemplo foi seguido por boa parte da juventude do pós-guerra, nas décadas de 1950 e 1960.

Sartre tentou ilustrar sua filosofia com ações traduzidas em diversos engajamentos políticos e sociais. Mais que qualquer outro filósofo, é necessário conhecer algo de sua biografia para captar o pensamento sartreano, um projeto desenvolvido em três horizontes: a filosofia, a literatura e a política.

O século 20 mal começara quando Jean-Paul-Charles-Aymard Sartre nasceu, na rua Mignard, em Paris. Sua mãe, Anne Marie, era prima do famoso missionário Albert Schweitzer. O pai, um jovem oficial da marinha, morreu de uma febre contraída no Oriente, quando Sartre tinha um ano. Em sua autobiografia, ele lamentou que lhe tivesse sido negado o prazer de conhecer o pai.

Criado pelo avô materno, não teve uma infância feliz: o velho Charles Schweitzer, homem preso ao passado, era adepto fervoroso da disciplina. Parece que foi por influência sua que o pequeno Sartre tomou gosto pela literatura e pela escrita. Sem conseguir se adaptar ao ambiente repressivo, refugiava-se em jogos imaginários.

No colégio encontrou um verdadeiro amigo, Paul Nizan: ambos se prometeram seguir a carreira literária e descobriram juntos a filosofia, que Sartre foi estudar na Escola Superior Normal de Paris e depois na universidade Sorbonne. Ali conheceu também Simone de Beauvoir, sua companheira de toda a vida e que se tornaria uma das mais famosas escritoras do mundo.

Sartre, quando estudante, não gostava de professores. Mas precisava ganhar a vida e se tornou, ele também, um professor de filosofia, aproveitando as horas de folga para escrever. Depois de algumas tentativas, conseguiu publicar uma novela, "O Muro", em 1937, e seu primeiro romance, "A Náusea", em 1938.

O início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, mudou os rumos de sua vida. Convocado pelo Exército francês, Sartre foi feito prisioneiro pelos alemães, no ano seguinte. E aproveitou sua prisão para estudar a obra do filósofo alemão Martin Heidegger. Fazendo-se passar por civil, conseguiu ser libertado.

Escreveu boa parte de suas obras durante a guerra. Mas foi nos anos 1950, quando já era um autor consagrado que publicou sua maior criação, a "Critica da Razão Dialética", em que estabelece um diálogo crítico entre o marxismo e o existencialismo.

Sartre passou um mês em Cuba, como hóspede de Fidel Castro e lhe dedicou uma reportagem no jornal France Soir. Foi autor do Manifesto dos 121, que proclamava o direito à insubordinação dos franceses que eram convocados para lutar na guerra da Argélia, então uma colônia francesa na África.

Em 1964 ganhou o Prêmio Nobel de Literatura - mas o recusou, porque não acreditava em se submeter a juízes e seus julgamentos, mesmo quando premiado. Ficou ao lado dos estudantes em maio de 1968, quando os jovens, decididos a viver de acordo com seus próprios valores, se revoltaram em Paris

Fonte: Disponível em [http://educacao.uol.com.br/biografias/jean-paul-sartre.jhtm]. Acesso: 01/10/2011



Drama ambientado em um único cenário, idéia que sempre seduzira o autor, decidido a escrever um texto com poucos personagens. A ação se passa no inferno, mas não o inferno cristão ao qual estamos acostumados, com demônios, punições e outros estereótipos. Os personagens, um homem e uma mulher - são levados a um salão sem janelas, iluminado todo o tempo, onde enclausurados, são condenados a uma 'vida sem interrupções', o que torna a sobrevivência insuportável.

A história criada por Sartre coloca três personagens em um inferno hipotético, onde são obrigados a conviverem sem elementos que possam refletir a própria imagem, a não ser os olhos dos habitantes do confuso ambiente, ou seja, cada um é o espelho para o outro.

A filosofia existencialista, defendida por Sartre, responsabiliza o indivíduo na escolha do caminho que melhor lhe agrada e orienta sobre a importância dos sentimentos na vida das pessoas. O filósofo cita: “aquele que me olha é sempre o meu carrasco.Ou seja, apesar do indivíduo desejar ser refletido na melhor forma, os olhos dos outros ignoram esta aspiração e o enxerga em profundidade, com o rigor que efetivamente ele, o individuo, não gostaria.
 
Sendo assim, a importância dos outros para cada um de nós, gera influências que podem se tornar um inferno, devido à incapacidade humana de compreender nossas fraquezas. Ele cita: “o inferno são os outros” numa alusão à sua própria imagem refletida nos olhos de quem os observa.
 
A afirmação sobre a vigilância e o julgamento constante aos quais somos submetidos, não elimina a possibilidade de um paraíso. Neste caso, cabe ao individuo a responsabilidade da escolha do caminho que mais lhe agrada. Resumidamente, apesar de o inferno ser os outros é possível a conquista do paraíso.

Entre quatro paredes, sem janelas, sem pausas para a vida cotidiana e descanso da observação aos olhos dos outros personagens, os três protagonistas foram obrigados a conviverem. Cita um dos protagonistas referindo-se ao piscar dos olhos, como fuga ao julgamento dos outros, como se os seus olhos fechados impossibilitassem as críticas de quem o observa: “A gente abria e fechava; isso se chamava piscar. Um pequeno clarão negro, um pano que cai e se levanta, e aí a interrupção. (...) Quatro mil repousos em uma hora. Quatro mil pequenas fugas”.

Entre as quatro paredes, Garcin, um jornalista pacifista, que pretendia ser herói, mantinha um disfarce e procurava esconder o seu crime. Sua maior agonia era a possibilidade das duas companheiras, no inferno hipotético, descobrirem a sua fraqueza ou covardia que naquela situação não podia ser alterada. Mulherengo, péssimo marido, insensível aos sentimentos da esposa, precisava dos olhos de Inês, outra protagonista, para se desculpar.
 
Inês, uma funcionária dos correios, com atitudes hostis, cujo ódio e a crueldade lhe nutrem, é a única entre os protagonistas que admite a culpa. Reconhece estar no inferno e mostra o seu caráter, admitindo a situação que se encontram. Adere ao fato e tenta tirar proveito dele. Tinha uma reflexão interior profunda e consciência clara do papel a ocupar.
 
A burguesa Estelle, cujo casamento foi realizado com um homem mais velho, por interesse financeiro, esconde o seu crime e tenta convencer Garcin e Inês que havia um engano em mantê-la no inferno. Fútil, superficial e desorientada, necessitava dos olhos do jornalista, Garcin, para manter-se desejada vez que os valores superficiais a impedia de enxergar na forma mais adequada e consciente.

Independente da intensidade, todos os protagonistas se olhavam e esta visão não passava do inferno de cada um. Cada um sabia os motivos de estar ali, conduto, tentavam esconder dos outros os fatos que os levaram à situação, para serem vistos como pessoas boas, exceto Inês, que não tinha esperança de mudança.

Enquanto Estelle e Garcin tentaram esconder os seus crimes, Inês expõe o por ela praticado e chama a atenção dos demais condenados, igualmente a ela, a permanecerem de forma irreversível, no lugar onde um é o espelho do outro. Tenta fazer com que Estelle enxergue Garcin através da avaliação dos seus olhos, como alternativa, já que ela o avaliava de forma superficial.

A história segue com Inês tentando conquistar Estelle, que por sua vez procura se relacionar com Garcin, e - sabedores de que a consciência é liberdade condenada a existir - sem possibilidade de fuga Garcin se antecipa ao fechamento das cortinas e diz: "Pois bem, continuemos..."
 
Fonte: Disponível em [http://visaoliteraria.blogspot.com/2009/08/entre-quatro-paredes-jean-paul-sartre.html]. Acesso: 01/10/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário